domingo, 28 de agosto de 2022

Expedições

Alexandre Rodrigues Ferreira, um dos mais importantes naturalistas do seu tempo

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 24 de julho de 2022

Alexandre Rodrigues Ferreira, filho do comerciante Manuel Rodrigues Ferreira, nasceu em Salvador, em 1756, tendo iniciado os seus estudos no Convento das Mercês, na Bahia.

Alexandre Rodrigues Ferreira prosseguiria os seus estudos na Universidade de Coimbra, onde se matriculou no Curso de Leis e, posteriormente, no de Filosofia Natural e Matemática, que completou aos 22 anos. Prosseguindo os seus estudos na instituição obteve, em 1779, o título de “Doutor”, tendo exercido a função de Preparador de História Natural.

Alexandre Ferreira trabalharia, em seguida, no Real Museu da Ajuda, tendo sido admitido, a 22 de maio de 1780, como membro correspondente na prestigiada Real Academia das Ciências de Lisboa.

Reconhecendo as elevadas capacidades do naturalista, a Rainha D. Maria I, desejando conhecer melhor o centro e norte do Brasil, até então regiões praticamente por explorar, enviou Alexandre Rodrigues Ferreira em viagem pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, com o intuito de dinamizar a exploração económica e fortalecer o domínio português sobre o interior brasileiro.

Para empreender tal expedição, Alexandre Rodrigues Ferreira abandonou o seu cargo no Museu da Ajuda, tendo partido para o Brasil em setembro de 1783, incumbido da missão de recolher, aprontar e remeter para o Real Museu de Lisboa amostras de utensílios empregados pela população local, bem como de minerais, plantas e animais. Ficou também encarregado de tecer comentários filosóficos e políticos sobre o que visse nos lugares por onde passasse, podendo assim a jornada ser considerada mais pragmática que outras realizadas na América, por ter um caráter menos técnico e científico.

Em outubro de 1783 aportou em Belém do Pará, dedicando os nove anos seguintes a percorrer o centro e norte do Brasil.

Alexandre Ferreira subiu o rio Amazonas e o rio Negro até à fronteira com as terras espanholas, navegou pelo rio Branco até à serra de Cananauaru, subiu o rio Madeira e o rio Guaporé até Vila Bela da Santíssima Trindade, então capital do Mato Grosso. Seguiu para a vila de Cuiabá, transpondo-se da bacia amazônica para os domínios do Pantanal Mato-grossense, já na bacia do rio da Prata. Navegou pelos rio Cuiabá, pelo rio São Lourenço e pelo rio Paraguai, voltando, em 1792, para Belém do Pará.

Ao longo deste período, realizaria um importantíssimo trabalho de descrição da natureza, das comunidades indígenas e seus costumes, sendo considerada uma das mais importantes viagens portuguesas do século XVIII.

Após retornar a Lisboa, em 1793, Alexandre Rodrigues Ferreira seria nomeado Oficial da Secretaria do Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, sendo condecorado no ano seguinte com a Ordem de Cristo e tomando posse como Diretor interino do Real Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico. Seria ainda Administrador das Reais Quintas e Deputado da Real Junta do Comércio.

A “Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá”, obra que escreveu, não seria aprofundada nas décadas seguintes pela Academia portuguesa, nem mesmo aprofundada pelo próprio Alexandre Rodrigues Ferreira e parte do espólio que trouxera do Brasil seria mais tarde levado para Paris. 

Atualmente, a Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa e o Museu Maynense, da Academia das Ciências de Lisboa, detêm um vasto acervo produzido pelo naturalista, como diários e mapas populacionais, geográficos e agrícolas.

Alexandre Rodrigues Ferreira viria a falecer em 1815, em Lisboa, aos 58 anos.





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