domingo, 28 de agosto de 2022

Ensino

A Biblioteca mais Antiga de São Paulo

Por Daniel Jorge Marques Filho

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 11 de julho de 2021

Uma das bibliotecas mais antigas do Brasil e a mais antiga de São Paulo é a do Mosteiro de São Bento, Centro Histórico de São Paulo, com mais de 115 mil livros reunidos desde 1598, quando os primeiros monges beneditinos começaram a trabalhar nessa biblioteca.

O acervo raro conta com 581 títulos publicados entre os séculos 15 e 18, joias raras da coleção. Uma bíblia de Gutenberg, o pai da imprensa, é o livro mais raro do acervo da biblioteca de São Bento. Datada de 1496, cerca de cem anos antes de os monges chegarem ao Brasil, e quatro anos mais velha que o nosso país, a bíblia fica isolada em uma sala com umidade e temperatura controladas e acesso restrito às pessoas que conservam estas obras e a estudiosos.

Outros livros raros da coleção: um comentário da bíblia de 1500, uma bíblia em alemão de Lutero, de 1656, a enciclopédia “História Natural do Brasil”, de 1658, os tratados de Aristóteles, de 1607, Steganographia, do monge Johannis Trithemius, de 1676 e um antifonal – base para o canto gregoriano – de 1715. Os exemplares, impressos em latim, grego e alemão, estão bastante conservados também pela alta qualidade do papel usado na época.

Um beneditino de destaque do Mosteiro foi o Frei Gaspar da Madre de Deus, considerado um dos primeiros historiadores de São Paulo, autor do Livro: "Memórias para a história da capitania de São Vicente" de 1797.

O Acervo da Biblioteca foi consultado pelo  Papa Bento XVI em sua primeira visita ao Brasil em 2007. O acesso ao acervo é restrito aos monges e alunos, mas pesquisadores e estudiosos podem solicitar uma permissão especial.






Obras de Caridade

O Primeiro Hospital do Brasil

Por Daniel Jorge Marques Filho

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 15 de setembro de 2021

A Santa Casa da Misericórdia de Porto Seguro, Bahia foi Fundada em 1540, Abrigou o primeiro hospital da América Lusitana. A Santa Casa da Misericórdia foi fundada em Lisboa, em 1498, pela Rainha D. Leonor (casada com D. João II), durante o reinado de D. Manuel. Era uma instituição de caridade, voltada principalmente a dar assistência aos pobres. Outras irmandades da Misericórdia foram fundadas nos anos seguintes e regulamentadas, em 1516. Até o final do reinado de D. Manuel, em 1521, estavam espalhadas por Portugal, Açores, Madeira, norte da África e Goa, na Índia. Essas irmandades possuíam hospitais de caridade, que para funcionar tinham privilégios financeiros e jurídicos, inclusive para a coleta de esmolas.No século 16, algumas irmandades da Santa Casa foram fundadas no Brasil. A Santa Casa de Salvador, a mais importante de todas, foi fundada em 1549, junto com a fundação da Cidade.

Igreja de Nossa Senhora da Pena. Iniciada em 1730, sobre as ruínas da antiga igreja matriz da vila (datada do século XVI), sua construção arruinou-se antes de ser concluída. Foi reformulada e finalizada em 1773


Evangelização

Um marco Arquitetura Portuguesa em Pernambuco

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 20 de novembro de 2022

A Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo, na cidade do Recife, Pernambuco, construída entre 1665 e 1767.

Os primeiros frades Carmelitas chegaram ao Brasil em 1580, vindos de Portugal. Em 1584, com a fundação de um convento em Olinda, o primeiro do país, realizou-se a primeira festividade brasileira em honra a Nossa Senhora do Carmo.

Após a expulsão dos holandeses em 1654, a Ordem do Carmo se estabeleceu no Recife e a Câmara de Olinda doou aos religiosos carmelitas o Palácio da Boa Vista (ou Reduto da Boa Vista), construído por João Maurício de Nassau em 1643, no qual foi instalado um hospício com capela. O Convento de Nossa Senhora do Carmo foi posteriormente construído aproveitando parte do torreão central do Palácio da Boa Vista.

Em 1665, o Capitão Diogo Cavalcanti Vasconcelos deu início às obras de construção da igreja, mandando executar, às suas expensas, a capela-mor, sem a licença real que, requerida em 1674, só foi concedida em 8 de março de 1687. A nave do templo foi terminada em 1742, e em 1754 foi colocado o sino na torre, sendo o frontispício concluído em 1767. No seu pátio, a cabeça do líder quilombola Zumbi dos Palmares ficou exposta até completa decomposição. No convento, encontram-se enterrados os restos mortais de Frei Caneca.

Os carmelitas do Recife tiveram sua vida de clausura interrompida em 1817, quando o governador Luís do Rego Barreto, algoz da Revolução Pernambucana, ordenou a transformação do Convento do Carmo em quartel e hospital militar. A devolução do convento aos religiosos só ocorreu em 1846.

A Basílica e o Convento do Carmo foram tombados em 5 de outubro de 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.







São Paulo

O Patriarca Português dos Paulistas. 

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 26 de janeiro de 2022

João Ramalho Maldonado foi um aventureiro e explorador português. Viveu boa parte de sua vida entre índios tupiniquins, após chegar no Brasil em 1515. Foi, inclusive, chefe de uma aldeia, após se tornar amigo próximo do cacique Tibiriçá, importante líder indígena tupiniquim na época dos primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil. Teve um papel importante na aproximação pacífica entre índios e portugueses, principalmente na chegada de Martim Afonso de Sousa no Brasil, com quem se encontrou no território de São Vicente, e criou grande amizade. Vivia no povoado de Santo André da Borda do Campo, que em 1553 foi transformado em uma vila pelo governador-geral do país na época, Tomé de Sousa. Ramalho foi vereador e alcaide (prefeito) da vila. 

Em 1562, João Ramalho foi designado a capitão-mor da Praça ou de São Paulo (uma espécie de protetor da região) por decisão popular, e lhe teve atribuída a tarefa de comandar a resistência da vila.  Ao lado de Tibiriçá, Ramalho e o povo de São Paulo conseguiram repelir os índios que cercaram a região. Teve relações com várias mulheres indígenas, mas sob influência do Padre Manuel da Nobrega casou-se com Bartira, filha de Tibiriçá, maior chefe guerreiro da região, batizada de Isabel Dias, tiveram nove filhos juntos, e dessa união descendem inúmeras das mais tradicionais famílias paulistas atuais.

João Ramalho deixou como descendentes a chamada dinastia de mamelucos, filhos de portugueses com indígenas, e teria recebido apelidos como o pai dos paulistas e o fundador da paulistanidade. Entre as famílias tradicionais fundadoras de São Paulo de Piratininga (em 1554) que se misturaram com os descendentes de João Ramalho, destacam-se, entre outras: os Leme, Prado, Almeida, Castro, Monteiro de Castro, Almeida Prado, Silva Prado, Castro Prado, Cardoso de Almeida, Pinheiro Guimarães, Bueno da Silva, Furquim, Castanho, Almeida Castanho, Freitas, Cunha Gago, Cunha Bueno, Dias, Botelho, Arruda, Arruda Botelho, Afonso Gaia, Rendon, Moraes Antas, Fernandes Reis, Fernandes Gonçalves Reis, Fernandes , Gama, Nogueira da Gama, etc.

Fonte: A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900.




São Paulo

Índio Tibiriçá

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 25 de janeiro de 2022

Túmulo do Chefe Tupiniquim Tibiriçá na Cripta da Catedral da Sé, São Paulo. Aliado dos portugueses, Tibiriçá teve papel destacado na fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, atual Cidade de São Paulo, em 1554. Foi convertido e batizado pelos jesuítas José de Anchieta e Leonardo Nunes. Seu nome de batismo cristão foi Martim Afonso, em homenagem ao fundador de São Vicente, Martim Afonso de Sousa. Por seu papel em proteger a Vila de Piratininga do ataque de indios hostis, Tibiriçá ganhou o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo pelo Rei de Portugal. Foi também Proclamado por José de Anchieta como fundador e protetor da Vila da São Paulo de Piratininga, pois junto de seus guerreiros defendeu a jovem Vila da Invasão dos Índios Guaianases. 

Fonte: Anchieta, de Celso Vieira, Anuário do Museu Histórico Nacional, História do Brasil, de Raphael Galanti, 1911.




Ensino

A Ciência no Brasil português

Por Hugo Dantas

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 8 de fevereiro de 2022

A Nova Portugalidade já se encarregou de destruir a calúnia, que muitos propalam por ignorância, ou má-fé, de que no Brasil não se instituíram estudos superiores antes da independência. Demonstrou-se inequivocamente que no Estado do Brasil se ministraram, desde cedo, cursos superiores de Letras e de Ciências, e que o florescimento da alta cultura naquela parte de Portugal não se iniciou na data tardia que, frequentemente, negligenciando ou distorcendo a evidência histórica, se procura fixar em cânone.

O desenvolvimento científico cultivado no Brasil fez-se não somente por meio da oferta de estudos superiores mas também com recurso ao modelo das academias científicas que proliferavam na Europa desde o século dezassete. Os caluniadores de Portugal, que desejam cristalizar a falsa imagem de um império promotor do atraso das suas possessões ultramarinas, esquecem-se invariavelmente de mencionar o facto revelador de a primeira academia científica portuguesa ter sido fundada no Brasil. A Academia das Ciências e da História Natural do Rio de Janeiro iniciou os seus trabalhos em 1772, com quase uma década de avanço sobre a Academia de Ciências de Lisboa, que só principiaria a sua actividade em 1780, e décadas antes do desembarque da Corte portuguesa.

Umbilicalmente ligada à Academia Real das Ciências da Suécia, à qual se afiliavam nomes tão sonantes na história da ciência natural como Lineu, a Academia do Rio de Janeiro formou-se com o propósito de estudar as riquíssimas fauna e flora brasileiras, para com os progressos destas investigações auxiliar o refinamento da agricultura e da medicina. Os académicos reuniam-se regularmente na sede do vice-reinado do Brasil, hoje Paço Imperial. As personalidades mais destacadas da ciência portuguesa da época, como Ribeiro Sanches, colaboraram com o empreendimento investigativo. A Academia instruiu uma selecta geração de homens da ciência, treinados pela observação, pela experimentação e pelo debate e divulgou os seus achados em folhas de imprensa acolhidas com grande entusiasmo. Já não era a Europa que ensinava o Brasil, mas o Brasil que ensinava a Europa, facultando-lhe conhecimentos utilíssimos para todos os domínios da ciência.

A Academia de Ciências e da História Natural do Rio de Janeiro, sendo a primeira academia científica, não foi a primeira academia de estudos superiores no Brasil, tendo sido precedida pela Academia Brasílica dos Esquecidos, surgida em 1724 com o fito de apoiar o trabalho da Academia Real de História Portuguesa. O contributo da Academia de Ciências seria continuado pela Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que igualmente se ocupou das questões naturais. A experiência e saber acumulados seriam continuados também pelos muitos brasileiros preparados na Academia que viriam a ensinar nos cursos da Universidade de Coimbra.


Evangelização

Mosteiro de São Bento, um pedaço de Portugalidade no Rio

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 24 de março de 2022

No centro da cidade do Rio de Janeiro é possível encontrar uma das inúmeras peças que compõem o património arquitetónico e religioso lusitano no Brasil, o Mosteiro de São Bento.

Os monges beneditinos Frei Pedro Ferraz e João Porcalho, recém-chegados da Bahia, viram na faixa de terra oferecida pelo fidalgo Manuel de Britoa, em 1590, o local perfeito para erguer um Mosteiro, sobretudo devido às boas condições de defesa, no alto da colina com vista para a Baía da Guanabra e ao clima agradável que lá se fazia sentir.

Apesar dos monges terem considerado Nossa Senhora da Conceição como sua padroeira, por se encontrar no local uma capela em sua honra, uma decisão da Junta Geral da Congregação Portuguesa, datada de 1596, ordenou que todos os mosteiros beneditinos no Brasil deveriam ter como patrono São Bento. O mosteiro, que ainda estava a ser projetado, adicionou assim o nome “São Bento” à sua denominação.

Alguns anos mais tarde, em 1602, o então “Mosteiro de São Bento de Nossa Senhora da Conceição” mudou de nome para “Mosteiro de Nossa Senhora de Montserrat”, com o intuito de homenagear a santa de devoção do governador da Capitania do Rio de Janeiro, D. Francisco de Souza.

Em 1617, foram finalmente definidos os planos do novo edifício, ficando como responsável pela sua obra o engenheiro militar português Francisco Frias de Mesquita.

Só em 1633 é que se deu início à construção da igreja, começando-se a erguer a capela-mor. Os trabalhos seriam intensificados no início da década de 1650 e só terminariam em 1671, uma demora que ocorrera sobretudo pela alteração do projeto inicial da construção, orquestrada pelo arquiteto Frei Bernardo de São Bento Correia de Souza.

O mosteiro anexo à igreja seria concluído apenas em 1755, com a construção do claustro, projetado pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim.

Após o término da sua construção, além da celebração de cerimónias religiosas, o espaço começou a abrigar também o Colégio de São Bento, as Edições Lumen Christi, a Faculdade de São Bento, a Casa de retiros de Emaús e a Obra Social São Bento.

O Mosteiro é conhecido pelo seu interior riquíssimo, totalmente forrado com talha dourada, que começaria a ser desenhada e esculpida pelo monge português Frei Domingos da Conceição, sendo da sua autoria as belíssimas estátuas de São Bento e de Santa Escolástica e a Nossa Senhora do Montserrat, localizada no altar-mor. A partir de 1714, os entalhadores Alexandre Machado Pereira, Simão da Cunha e José da Conceição e Silva esculpiram a maior parte da talha da nave.

Entre 1789 e 1800, trabalhou na decoração do interior um dos grandes escultores do rococó do Rio de Janeiro, Mestre Inácio Ferreira Pinto, que refez a capela-mor, sendo também o autor da magnífica capela do Santíssimo Sacramento.

Na sacristia do mosteiro está a obra-prima do pintor Frei Ricardo, uma tela que representa o Senhor dos Martírios, pintada por volta de 1690.

O Mosteiro de São Bento foi incluído na lista de 27 obras arquitetónicas que poderiam ser escolhidas como “Maravilhas de origem portuguesa no mundo”, um concurso realizado em 2008.




Holandeses no Brasil

Henrique Dias, herói da Insurreição Pernambucana que expulsou os holandeses do Brasil

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 20 de julho de 2022

Henrique Dias nasceu em Pernambuco, em data desconhecida no início do século XVII, filho de escravos libertos. Quase nada é conhecido relativamente aos seus primeiros anos.

Em 1630, os holandeses tomariam Pernambuco, obrigando as tropas portuguesas, comandadas por Matias de Albuquerque, a recuar para o interior.

Em 1631, Henrique Dias alistar-se-ia nas tropas de Albuquerque, tendo-se destacado como um dedicado combatente na resistência do Nordeste Brasileiro ao ataque holandês. Henrique Dias viria inclusive a perder a mão esquerda em combate. Contam as crónicas da época que, após perder a mão, afirmara que lhe bastava ter a mão direita para defender a sua terra e o seu Rei.

As forças holandesas foram avançando e obrigando as tropas lideras por Albuquerque a recuar para a capitania da Bahia.

Matias de Albuquerque seria então intimado a retomar a Portugal, onde seria responsabilizado pelos fracassos da resistência à invasão e preso, permanecendo encarcerado até à Restauração da Independência, em 1640.

Maurício de Nassau, Governador da "Nova Holanda", desembarcaria no Recife em janeiro de 1637, consolidando o domínio holandês na região. 

A partir de 1642, já após a Restauração, a resistência à ocupação holandesa tornou a intensificar-se. A 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, dezoito líderes militares portugueses assinariam um compromisso para lutar contra o domínio holandês no Brasil, dando assim origem à Insurreição Pernambucana. Henrique Dias seria um dos líderes do movimento, que também era composto por nomes como André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira e Filipe Camarão, nascido com o nome de Poti, chefe nativo dos índios Potiguares.

Os holandeses sofreriam a primeira grande derrota na Batalha do Monte das Tabocas, em agosto de 1645. Nos anos seguintes, em 1648 e 1649, os revoltosos alcancariam novas vitórias nas Batalhas dos Guararapes, onde Henrique Dias desempenharia um papel decisivo.

A 26 de janeiro de 1654, os holandeses assinariam a rendição, estabelecendo-se o Tratado da Campina de Taborda, pondo fim à ocupação holandesa do Nordeste brasileiro.

Henrique Dias seria nomeado pelo Rei D. João IV Cavaleiro da Ordem de Cristo, recebendo a patente de Mestre de Campo.

Henrique Dias viria a falecer no Recife, a 7 de junho de 1662, tendo sido sepultado no Convento de Santo António.

Em homenagem à sua coragem e dedicação, Henrique Dias seria designado, em 1992, patrono do então 28.º Batalhão de Infantaria Blindada, atualmente designado 28.º Batalhão de Infantaria Leve do Exército Brasileiro, localizado em Campinas, no Estado de São Paulo.

Ficaria para a História a carta que o Rei D. João IV enviaria a Henrique Dias em 1648, agradecendo a participação do Terço dos soldados negros na Guerra contra os Holandeses na Insurreição Pernambucana e ordenando a alforria dos soldados que ainda fossem escravos:

"Henrique Dias, Eu El Rey vos envio saudar Por justas considerações que com os homens da vossa gente preta, representando-me a grande utilidade de que fora para a guerra do Brasil e restauração daquela Capitania, o terço dos homens pretos e pardos que com seu valor a ajudaram a recuperar e que conviria muito mandar libertar a parte que da dita gente for cativa, assim soldados como oficiais e com mais razão pois movidos pelos editais, que pelos Generais e Governadores se puseram nos quais em meu nome lhes prometeram serem forros e libertos largaram o serviço de seus donos e foram servir naquela guerra, pedindo-me que respeitando aos serviços que o dito Terço me fez. (...)  enquanto com os Estado de Holanda, não houver paz firme se conserve o Terço do dito Henrique Dias, dando liberdade em meu nome aos soldados e oficiais dele." 



Ceará

Fundação de Fortaleza

Por Licínio Nunes de Miranda

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 9 de maio de 2022

A Tomada do Forte de Schoonenborch dos Holandeses, rebatizado de Forte de Nossa Senhora da Assunção pelo capitão mor português Álvaro Azevedo, um dos marcos da fundação da Cidade de Fortaleza, Capital do Ceará, em 1654. Pintura do Acervo do Espaço Cultural da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.  Obra de Autoria de Rodval Matias.

Em 1649 os holandeses invadem o Ceará a procura das minas de prata e construíram, às margens do Rio Pajeú, o Forte Schoonenborch, começando nesse momento, a história de Fortaleza, sendo responsável por seu início, o comandante holandês Matias Beck. Em 1654 os holandeses foram expulsos e o forte foi rebatizado de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção.

Após a expulsão dos Holandeses do Ceará, o capitão mor português Álvaro Azevedo, ordenou a Construção de uma Capela no antigo forte de Schoonenborch, que foi rebatizado de Nossa Senhora da Assunção, cuja imagem barroca de 1654, continua no acervo histórico do Forte até os dias de Hoje.



Rio de Janeiro

Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 13 de maio de 2022

Estácio de Sá nasceu em Santarém em 1520, sendo sobrinho do Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá.

Estácio de Sá chegaria a Salvador em 1564. Em 1565, após extensos preparativos e ajuda de missionários jesuítas, como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, partiria por mar de São Vicente, São Paulo, com uma força de ataque. A 1 de março, fundaria a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, estabelecendo aí a base das operações militares portuguesas contra os invasores franceses.

Após receber reforços enviados por mar pelo seu tio Mem de Sá, Estácio comandou um ataque a 20 de janeiro de 1567, num combate que ficaria conhecido como Batalha do Rio de Janeiro ou Batalha da Baía de Guanabara e que terminaria com a vitória decisiva das forças portuguesas.

Apesar da vitória, Estácio de Sá viria a falecer na batalha devido a ferimentos infligidos por uma flecha que perfurou o seu olho.

Sá seria sepultado na igreja de São Sebastião no acampamento que havia fundado. Com o crescimento da cidade do Rio de Janeiro, os seus restos mortais seriam transferidos para uma nova igreja de São Sebastião no Castelo.




Bahia

Tomé de Sousa, o primeiro Governador-geral do Brasil 

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 17 de maio de 2022

Tomé de Sousa nasceu em 1503, em Rates, filho de João de Sousa e de Mércia Rodrigues de Faria.

Tomé de Sousa tornar-se-ia soldado, sendo citado nas crónicas da época como participante nas campanhas portuguesas no norte de África, em 1527. Posteriormente partiria para o Oriente, sevindo em Cochim no ano de 1535, capitanenado uma nau da Armada.

Como recompensa pelos serviços prestados à Coroa, em 1537 Tomé de Sousa seria elevado a fidalgo da Casa Real, obtendo a comenda de Rates. 

Em 1547, 13 anos depois de dividir o Brasil em Capitanias hereditárias, o Rei D. João III nomearia Tomé de Sousa Governador-geral do Brasil, sendo assim o militar a primeira pessoa a exercer este cargo.

Tomé de Sousa tinha ordens do Monarca para se dirigir à Bahia, fortificar e explorar a costa desde aí até Pernambuco, defender a região e explorar o rio São Francisco.

Tomé de Sousa sairia de Portugal a 1 de fevereiro de 1544, liderando uma Armada de seis embarcações e mais de mil pessoas, alcançando o Brasil a 29 de março de 1549. O local do desembarque, a Vila do Pereira, na Bahia, ostenta hoje um monumento em homenagem ao primeiro Governador-geral.

A 1 de novembro do mesmo ano, Tomé de Sousa declararia que estava oficialmente fundada a cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, nova capital do território, prestando juramento como Governador do Brasil.

A partir desta data, o Governador viria a desenvolver a região, fomentando a sua economia e desenvolvendo o comércio com Portugal.

Em 1550, chegaria ao fim o mandato de três anos de Tomé de Sousa, tendo o mesmo de esperar, no entanto, até 1553 pela chegada do seu substituto, Duarte da Costa.

Após retornar a Portugal, seria nomeado Vedor d'el-Rei, o funcionário responsável pela fiscalização dos empreendimentos da Casa Real.

Tomé de Sousa viria a falecer em Lisboa, a dia 28 de janeiro de 1579, tendo sido sepultado no Mosteiro de Santo António de Castanheira, na capital.




Política

Mem de Sá, Governador-geral do Brasil

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 18 de junho de 2022

Mem de Sá nasceu em Coimbra, por volta de 1500. Obteria o diploma em Leis pela Universidade de Salamanca, em 1528, tendo exercido a partir de 1532 o cargo de Juiz Desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação.

Em 1556, o Rei D. João III nomeá-lo-ia Governador-geral do Brasil. A 10 de novembro do mesmo ano, o comandante francês Villegagnon desembarcaria no local onde seria fundado o Rio de Janeiro, com seiscentos homens, tendo construído o forte Coligny. Mem de Sá ficaria então encarregue de restaurar a soberania portuguesa sobre a região.

Sá chegou à Bahia a 28 de novembro de 1557, decidido a promover a harmonia no território e apaziguar os índios, para que deixassem de lutar entre si ou contra os portugueses.

Em 1558, Mem de Sá organizaria uma expedição e atacaria os franceses que estavam estabelecidos no Espírito Santo, tendo o seu filho Fernão de Sá morrido então em combate.

No ano seguinte, chegaria à Bahia uma esquadra comandada por Bartolomeu Vasconcelos, que iria auxiliar Mem de Sá a reconquistar a região do Rio aos franceses. Em 1560, as tropas portuguesas atacariam os invasores, mas estes ainda se retirariam para o interior.

Em 1563, Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, chegaria ao Brasil com mais reforços portugueses, com o intuito de expulsar os franceses e fundar a nova cidade. 

A dia 1 de março de 1565, Estácio de Sá daria início à construção da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Entre 1565 e 1567, os portugueses venceriam batalhas decisivas como a da praia da Glória e da Ilha do Governador, derrotando finalmente os franceses na região.

Em 1568, Mem de Sá retornaria à Bahia. Cansado e já sem o seu sobrinho, que morrera na sequência de ferimentos contraídos em batalha, manifestaria vontade de regressar a Portugal numa carta ao Rei D. Sebastião, onde escrevera “Peço a Vossa Alteza que em paga de meus serviços me mande ir para o Reino, e mande vir outro governador, porque afianço a V. Alteza que não sou para essa terra”.

O Rei nomearia Luís de Vasconcelos Governador-geral, mas o navio em este que viajava naufragaria, impedindo Sá de regressar. 

Mem de Sá viria a falecer em Salvador, a 12 de março de 1572.



Política

Martim Afonso de Sousa, o português que ajudou a estruturar o Brasil

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 26 de junho de 2022

Martim Afonso de Sousa nasceu em Vila Viçosa, por volta do ano de 1500. Oriundo de família nobre, foi amigo de infância de D. João III. Na sua juventude, estudaria matemática, cosmografia e navegação.

Com a morte do Rei D. Manuel I, em 1521, é enviado para Castela com a missão de acompanhar Dona Leonor, viúva do falecido Rei, que retornava à sua terra natal.

Em terras espanholas, acompanha Carlos V nas lutas contra a França e casa-se com Dona Ana Pimentel, fidalga oriunda de uma família de grande prestígio. Em 1525 torna a Portugal, acompanhando a infanta espanhola Dona Catarina, irmã de Carlos V, que iria casar-se com Dom João III.

Em 1530, o rei Dom João III organiza uma expedição com o intuito de colonizar as terras brasileiras, entregando o comando da mesma a Martim Afonso de Sousa. 

No dia 3 de dezembro de 1530, partia de Lisboa a nau capitânia com Martim Afonso e o seu irmão Pero Lopes de Sousa, o galeão São Vicente, a caravela Rosa e a caravela Princesa, com uma tripulação conjunta de cerca de quatrocentas pessoas, na sua maioria navegadores, padres e soldados.

A missão principal de Martim Afonso de Sousa era instalar no Brasil a administração portuguesa, colocando os marcos indicativos de posse, doando as terras e definindo quem as administraria.

Já no Brasil, mais concretamente na costa pernambucana, combateria os franceses que contrabandeavam pau-brasil, tomando-lhes os navios, que seriam incorporados na esquadra portuguesa.

Seguindo para o sul, chegaria ao Rio de Janeiro no dia 30 de abril de 1531.

No dia 20 de janeiro de 1532, Martim Afonso de Sousa manda instalar o primeiro marco real da colonização na capitania de São Vicente, onde é construído um forte e, com a preciosa ajuda de João Ramalho, português casado com uma índia, fixa a primeira povoação permanente. Lá, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação do engenho dos Erasmos, que ajudou na crescente prosperidade da região.

Aos poucos, Martim Afonso de Sousa ia cumprindo a importante missão para a qual fora destacado, instituindo o domínio português no Brasil. Em outubro de 1532, D. João III decide dividir o território em 14 capitanias hereditárias, doadas a 12 donatários. Martim Afonso de Sousa recebe São Vicente, posteriormente denominada Vila de São Paulo e seu irmão Pedro Lopes de Sousa é agraciado com Sant’Ana.

Retornando a Portugal em 1533, Martim Afonso de Sousa é, apenas quatro meses depois, nomeado Capitão-Mor do mar das Índias, sendo-lhe confiada uma armada de cinco naus, ficando assim encarregue de proteger as possessões portuguesas no Oriente.

Logo ao chegar, prestaria ajuda militar ao sultão de Cambaia, em troca da construção de uma fortaleza portuguesa em Diu. Derrotaria ainda o Marajá de Calecute e combateria os corsários que saqueavam as embarcações portuguesas na região.

Seria nomeado em 1542, por Dom João III, “governador das partes das Índias”, o equivalente ao mais comummente falado Vice-Rei da Índia, posto onde permaneceria até o ano de 1545.

Retornado a Portugal, Martim Afonso de Sousa tornar-se-ia Conselheiro de Estado, acabando por falecer em Lisboa, no ano de 1571, tendo sido enterrado no Convento de São Francisco da Cidade.



Expedições

381 anos da morte de Pedro Teixeira, o “Curiua-Catu” que desbravou a Amazónia

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 4 de julho de 2022

Nascido em Cantanhede em ano desconhecido, por volta de 1585, Pedro Teixeira participaria, com Jerónimo de Albuquerque, na campanha para expulsar os franceses de São Luís do Maranhão, no litoral nordeste do Brasil.

Após o sucesso na expulsão destes, no final de 1615, foi integrado numa expedição à foz do rio Amazonas, composta por três embarcações e comandada por Francisco Caldeira Castelo Branco, com vista a consolidar o domínio português sobre esta região.  A 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancorariam na baía de Guajará onde foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém.

No ano de 1625, Pedro Teixeira comandaria a luta contra os holandeses e ingleses que se tentavam apoderar da região, sendo a sua atuação destacada pelo frei Vicente do Salvador, na sua obra “Historia do Brazil”.

A 25 de Julho de 1637, Teixeira chefiaria uma expedição que partira de Belém, com 45 canoas, setenta soldados e mil e duzentos flecheiros e remadores indígenas com o objetivo de subir o curso do rio Amazonas e expandir as possessões portuguesas na região face aos avanços espanhóis, apesar dos dois Reinos estarem na altura unidos pela mesma Coroa. O destino final da expedição seria Quito, no Equador.

A grande dificuldade da viagem exigiu que os homens, sob o comando de Pedro Teixeira, desenvolvessem ao máximo as suas habilidades de caça e pesca e estabelecessem relações de troca e amizade com os índios nativos.

Depois de oito meses de viagem, a expedição alcançou a primeira povoação espanhola, nas margens do Rio Quijos. Após este ponto, devido à grande intensidade das correntes, a maioria da restante jornada teve de ser realizada a pé.

Após quase um ano, em 1638, a expedição alcançaria o seu destino, fazendo com que os portugueses conseguissem obter mais território do que aquele que ficara garantido com o Tratado de Tordesilhas, em 1494.

Apesar de nunca terem ocorrido conflitos de maior importância, as autoridades espanholas revelar-se-iam preocupadas com o avanço da expedição portuguesa em terras que consideravam suas, pelo que deteriam Pedro Teixeira em Quito por várias semanas, acabando por autorizar o seu regresso, desde que acompanhado por um conjunto de padres jesuítas, liderados por Cristóbal de Acuña, que reportaria tudo às autoridades castelhanas. O primeiro relatório de Acuña seria publicado como livro em 1641.

Com o retorno à costa atlântica, a expedição de Pedro Teixeira tornar-se-ia a primeira a simultaneamente subir e descer o rio Amazonas. Teixeira ganharia entre os índios a alcunha de “Curiua-Catu”, “o bom e amigável homem branco”.

Após o fim da expedição, Pedro Teixeira retornaria a S. Luís do Maranhão, sendo nomeado Capitão-Mor do Grão-Pará a 28 de fevereiro de 1640, cargo que abandonaria após apenas três meses por motivo de doença. Acabaria por falecer no dia 4 de julho de 1641, há 541 anos.



Capitanias

Duarte Coelho, Governador de Pernambuco

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 5 de julho de 2022

Duarte Coelho nasceu em Miragaia, por volta do ano de 1485, sendo filho do escrivão da Fazenda Real, Gonçalo Coelho. Casaria com Dona Brites de Albuquerque, irmã do administrador Jerónimo de Albuquerque.

Duarte Coelho dedicar-se-ia, desde 1509, à conquistas de terras para o Reino de Portugal, essencialmente em África e na Ásia, exercendo entre os anos de 1516 e 1517 a função de embaixador português junto à corte do rei do Sião, atual Tailândia.

Coelho realizaria ainda várias viagens no mar da China com o intuito de carregar especiarias e seria encarregue de fiscalizar as fortificações portuguesas ao longo da costa africana. 

No ano 1523, Duarte Coelho comandaria a frota que percorria o Oceano Atlântico com a missão de impedir os franceses de invadir o litoral brasileiro, onde fundavam feitorias em território português.

No ano de 1534, com o objetivo de melhor povoar e administrar o Brasil, o Rei D. João III divide o território em capitanias hereditárias, sendo Duarte Coelho agraciado com a Capitania de Pernambuco, que abrangia os atuais estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e parte da Bahia.

Duarte Coelho chegaria ao território a 9 de março de 1535, trazendo consigo família e um conjunto considerável de elementos para ajudar a povoar a Capitania, tendo desembarcado no norte da mesma, instalando-se originalmente nas margens do rio Santa Cruz.

Duarte Coelho subiria o rio e, a 27 de setembro de 1535, fundaria a vila de “Santos Cosme e Damião”, o primeiro núcleo de povoamento português no Brasil. Coelho seguiria para sul, fundando a cidade de Olinda, que durante quase três séculos seria capital de Pernambuco.

Ao longo dos anos seguintes, Duarte Coelho focar-se-ia no enriquecimento da sua Capitania, conseguindo créditos da Coroa para lá instalar engenhos que permitissem a plantação de cana-de-açúcar, sendo que o primeiro, o de Nossa Senhora da Ajuda, seria implantado na várzea do rio Beberibe.
Em 1550 a Capitania já possuía cinco engenhos semelhantes, sinal claro da prosperidade alcançada sob a liderança de Duarte Coelho.

Duarte Coelho regressaria a Portugal em 1541, com o intuito de trazer financiamento para os seus empreendimentos e em 1553, para levar os seus filhos Duarte e Jorge a estudar na metrópole, ficando nestas alturas o governo da Capitania sob a tutela da sua esposa Dona Brites, com a ajuda do irmão Jerónimo de Albuquerque.

Duarte Coelho faleceria em Portugal, no dia 7 de agosto de 1554. A administração da Capitania que ajudou a prosperar permaneceria sob o comando de Dona Brites e de Jerónimo de Albuquerque, até que os filhos de Duarte Coelho atingissem a maioridade.


Mapas

Lopo Homem, cartógrafo português do século XVI

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 11 de julho de 2022

Lopo Homem nasceu em finais do século XV, tendo-se destacado no século seguinte como um importante cartógrafo e cosmógrafo português.

Em 1517, o Rei D. Manuel I passar-lhe-ia um alvará que lhe permitia fazer e emendar todas as agulhas (bússolas) dos navios.

Em 1524, participaria na Junta Badajoz-Elvas, comissão instaurada pelas Coroas de Portugal e Espanha para demarcar os limites de navegação dos dois países, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, cuja demarcação exata havia sido contestada na sequência da chamada questão das Molucas, litígio levantado por D. João III de Portugal e Carlos V de Espanha relativamente aos direitos de posse das Molucas. Lopo Homem redigiu, relativamente a esta Junta, uma carta que ainda hoje se conserva na Torre do Tombo. A querela terminaria apenas em 1529, com a assinatura do Tratado de Saragoça, pelo qual Portugal adquiriu as Ilhas Molucas mediante o pagamento de 350 000 ducados de ouro.
A obra mais antiga de cartografia conhecida da autoria de Lopo Homem é um planisfério, descoberto em Londres em 1930, atualmente parte do acervo do British Museum. O planisfério apresenta pouca nomenclatura em latim, sendo possível, em África, identificar as regiões da Líbia, Etiópia e da Guiné. A América encontra-se identificada como "Mundus Novus Brazil".

Em 1519 elaborou também o “Terra Brasilis”, parte do chamado "Atlas Miller", trabalho conjunto dos cartógrafos Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel e ilustrado pelo miniaturista António de Holanda, atualmente na Biblioteca Nacional de França, em Paris. Trata-se de uma carta, manuscrita sobre pergaminho, com detalhada nomenclatura em latim, que mostra a costa brasileira desde o Maranhão até ao rio da Prata. Nas iluminuras é possível identificar indígenas, alguns envolvidos na atividade de exploração de pau-brasil. Um escudo de armas ao norte, na atual Guiana Francesa e outro ao sul, na atual Argentina, assinalam os domínios de cada Coroa Ibérica.

Sobreviveram ainda da obra de Lopo Homem um planisfério elaborado em 1554, hoje em Florença e uma Carta Marítima, atualmente na Biblioteca Nacional de Portugal.

Lopo Homem terá morrido na década de 70 do século XVI, sendo pai de Diogo Homem, também cartógrafo.

Na imagem, detalhe do mapa "Terra Brasilis", da autoria de Lopo Homem.

Política

Diogo de Gouveia, o intelectual português que pensou as Capitanias Donatárias

Por Miguel Louro

Publicado na página Nova Portugalidade do Facebook em 18 de julho de 2022

Diogo de Gouveia nasceu em Beja no ano de 1471, filho de Antão de Gouveia.

Em 1499 foi estudar para Paris, no Collège de Montaigu , beneficiando de duas bolsas de estudo oferecidas por Jan Standonck, reitor da instituição, ao rei D. Manuel I como compensação por um ataque de corsários franceses a um navio Português. Diogo Gouveia estudou também na Universidade de Paris, onde se tornou Mestre de Artes. Gouveia seria ainda ordenado sacerdote, formando-se como Doutor em Teologia em 29 de abril de 1510.

A partir de 1512 atuou como agente diplomático do rei D. Manuel I em França, atendendo essencialmente a reclamações de proprietários de navios portugueses atacados por corsários franceses.

Em 1520 Gouveia decidiu comprar o parisiense Collège Sainte-Barbe com fundos do Rei, acabando por conseguir alugá-lo perante a resistência do proprietário Robert Dugast, tornando-se seu reitor e convertendo-o numa verdadeira faculdade portuguesa dentro da Universidade de Paris. 

Em 1526, após ser aconselhado por Diogo de Gouveia, o Rei D. João III criou mais de 50 bolsas de estudo para estudantes portugueses em Paris, encontrando-se entre estes alunos André de Gouveia e Diogo de Teive.

No ano de 1532, para combater os crescentes avanços de corsários franceses na costa brasileira, Diogo de Gouveia, juntamente com Cristovão Jacques, sugeriria ao Rei que este introduzisse o sistema de Capitanias Donatárias no Brasil, sugestão que seria implementada em 1534.

Em 1537, Diogo de Gouveia realizou missões diplomáticas na França em nome de D. João III. Participaria na aprovação papal da Companhia de Jesus e empenhou-se em garantir que os seus membros participariam nas missões portuguesas.
No ano de 1542, o Rei D. João III decidiria fundar o Real Colégio das Artes e Humanidades de Coimbra, com o objetivo de preparar em Portugal os futuros estudantes universitários, chamando para o dirigir André de Gouveia, destacado diretor do Colégio de Guyenne e sobrinho de Diogo de Gouveia. Diogo de Gouveia opôs-se publicamente à nomeação do sobrinho, acusando-o de Luteranismo, referindo que o nomeado deveria ser Diogo Gouveia, o moço, seu primo.

Diogo de Gouveia regressaria a Portugal em 1556, onde se tornaria Cónego da Sé de Lisboa, tendo vindo a falecer no ano seguinte. 

Enterrado no Cruzeiro da Sé, tinha inscrito no seu epitáfio, hoje perdido, que “aqui reside Diogo Gouveia Doutor em Teologia e reitor da Universidade de Paris, Canon nesta Santa Sé, que alcançou e servido cinco reis de Portugal e quatro da França e participou e negociado para o bem da fé e honra deste Reino. Ele morreu no dia 8 de dezembro 1557.”

Em sua honra, podemos ainda hoje encontrar em Beja a Escola Secundária Diogo de Gouveia.