Por Pedro Calmon
A Independência do Brasil do Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves foi orquestrada pela Maçonaria, no setor político, e pela Inglaterra, no setor Militar e Econômico, facilitada pelo regresso de Dom João VI a Portugal em 1821, pelas decisões equivocadas das Cortes e pelo recrutamento do Príncipe Regente Dom Pedro as fileiras da conspiração Maçônica.
Para D. João VI, a Coroação de seu filho D. Pedro I como Imperador do Brasil em 1822 era ilegítima, porque o poder fora adquirido revolucionariamente, sendo que somente o legítimo detentor da soberania podia legitimamente sub-rogar tal poder.
A partir de 1824 D. João VI, manifestava a sua intenção de “por termo aos males e dissensões que têm ocorrido no Brasil”.
A Revolução Liberal do Porto foi um desastre para Portugal: os insultos dos deputados, a humilhação dos brasileiros nas Côrtes, a irritação de D. Pedro, os aprestos de tropa, os choques de patriotas e portugueses, logo, com a insubmissão do príncipe, que não mais obedecia ao congresso, que o desafiava, o desligamento do Brasil, perdido de vez ... Foi o que o constitucionalismo dos exaltados deu a Portugal: o epilogo mofino do seu laborioso reinado americano. E a miséria comum. O comercio extinto, as casas de Lisboa e Porto fechando-se, os ingleses recolhendo a herança lusitana, favorecendo a separação do Reino Unido, e a divisão da família portuguesa, a começar pela família real.
Chegara do Rio de Janeiro, deportado pela guarnição portuguesa, o conde dos Arcos. Desembarcara desiludido, pedindo, em tons lúgubres, que suspendessem represálias, que evitassem a luta, pois não havia mais impedir a emancipação do Brasil. Poucos, como o rei, o entenderam. Diria Palmela: "Sua Majestade era dotado de muita perspicácia para deixar de conhecer a impossibilidade de sujeitar o Brasil. .. " foi o bom senso isolado, amargando a hora do desvairo de seu país, não sabendo mais onde parariam, na queda.
Dom João VI se convenceu que Portugal não tinha mais condições de reconquistar o Brasil pelas forças militares. Em 1823 a Guerra na Bahia havia acabado a favor dos Brasileiros com o apoio de mercenários britânicos e Franceses. O Rei queria por fim a Guerra que tantos danos tinham trazido aos portugueses e aos brasileiros, de “restabelecer a paz, amizade e boa harmonia, entre povos irmãos” e, além disso, “de procurar a prosperidade geral e segurar a existência política aos destinos futuros dos reinos de Portugal e Algarves, assim como os do Brasil”
Seu filho porém o Infante Dom Miguel, Generalíssimo do Exército e seus apoiadores defendiam novas expedições ao Brasil.
D. João, a despeito da sua astucia, não compreendera bem o caráter do primogênito que lhe usurpou o trono no Brasil. Julgara-o um rapazola sentimental que tinha a força do avô espanhol, a devassidão do tetravô português, a ingenuidade, em coisas do Estado, dos moços Braganças que gastavam a adolescência matando lobos no Alentejo ou desancando labregos na rua suja.
Ignorava que D. Pedro se acamaradara com os oficiais da tropa, principalmente Jorge de Avilez, conhecera em Santo Antônio frei Sampaio, gordo, eloquente, espirituoso, que lhe falara das ideias francesas, e dedicava a Napoleão uma admiração escandalosa, esquecido de que o corso lhe perseguira a família, destronara o avô, ridicularizara o tio, varrera a pátria com as suas cavalarias.
D. Pedro impacientara-se: e queria a sua parte de governo, a sua cadeira á mesa do Estado, o seu quinhão de gloria.
As ultimas palavras, com que D. João VI selou os argumentos antes de seu regresso a Portugal, foram molhadas de lagrimas: "Isto já agora não tem remedia. A Providencia que tão maravilhosamente tem protegido a monarquia portuguesa, é quem só a póde salvar". Somente Deus.
O desmantelo da monarquia começara pela separação do Brasil. Como ele previra. Independência com D. Pedro, porque lá ficara; sem este, se também embarcasse. D. João jamais se enganara com as consequências da volta á Europa. Como aconselhara ao filho, que se antecipasse a "algum aventureiro"
Com a Guerra no Brasil perdida, sem dinheiro nos cofres públicos, valia mais desmontar as fragatas do que as expedir á guerra longe... Como que tirava aos zelosos estadistas o instrumento de suas cóleras: sem barcos não ousariam reatar a tragédia, continuar a briga desigual. "
Dentre as razões que levaram o Reino Unido a apoiarem ativamente a causa da independência brasileira, pode-se destacar que a independência do Brasil facilitava politicamente o reconhecimento das repúblicas hispânicas; que Portugal encontrava-se envolto em tumultos internos, e, portanto, muito fraco militar e economicamente para voltar a impor o seu domínio sobre o Brasil; como resultado das relações comerciais desenvolvidas desde 1808 o Brasil já era o terceiro maior mercado consumidor das exportações britânicas; o Brasil tinha mantido a monarquia e era, portanto, um "bom exemplo" para os outros países; que qualquer retardo no seu reconhecimento colocaria em risco a estabilidade e a unidade do novo país.
Em 1823, Nathan Rothschild, banqueiro mais poderoso da Inglaterra tornou-se o principal agente Financeiro do governo brasileiro em Londres, pagando os dividendos semestrais sobre os empréstimos e atuando como banqueiro do enviado brasileiro em Londres. Foi Nathan Rothschild o grande influenciador das negociações do Reconhecimento da Independência do Brasil por Portugal em 1825.
O primeiro grande empréstimo externo do Brasil foi obtido em 1824, no valor de £ 325482 milhões de libras esterlinas e ficou conhecido como "empréstimo da Independência", destinado a cobrir dívidas com a coroa portuguesa e na prática significava o pagamento a Portugal pelo reconhecimento da independência.
Os diplomatas de Dom Pedro I não compreendiam como o Brasil "póde figurar-se ter um aniversário no Sr. D. João VI, quando S. M. foi quem de fato abriu as portas á sua Independência ele-vando-o á categoria de Reino, franqueado o comercio de seus portos a estabelecimentos, que o tornam livre e independente de todo ... "
Posta a querela nestes termos de ingratidão filial a composição não tardaria mais.
D. João pedia indenizações e o titulo de Imperador, honorifico, para que morresse consolado, na ilusão de não ter perdido nenhum dos domínios herdados, além da escassa Olivença fartamente compensada pelo Uruguai; D. Pedro reclamava o reconhecimento da Independência.
Evidentemente, só um tratado secreto, que não sofresse a influencia da indignação popular, poderia congraçá-los. A Inglaterra não admitia que D. João VI se considerasse imperador nominal do Brasil.
A farsa irritava-a. Como que adivinhava a futura reunião dos dois países, na pessoa de D. Pedro, portador de ambas as coroas, e um obstáculo á emancipação da América de todo poder europeu, que não fosse inglês.
Com o Tratado do Rio de Janeiro Dom João VI se fez Imperador do Brasilpor aclamação dos povos ...
D. João fizera questão de coroar-se, com aquela coroa por não ceder á Inglaterra, e proclamar o perdão do primogênito rebelde. Ele tinha, por vezes, esses caprichos misteriosos. Dizia que abominara aquela guerra de pai a filho, de metrópole à colônia emancipada, onde Portugal deixara, com os escudos das conquistas, o seu espirito civilizador.
Arcos, falando no conselho do Reino, entre os absolutistas visionários, exprimira o sentimento das velhas gerações lusitanas. O Brasil continuaria a enriquecer Portugal, como país de imigração, aproximado da antiga mãe pátria pelo idioma, que ninguém lhe mudaria, pelo atavismo: mas uma luta de desespero, cavando ódios duradouros, mais afastaria as duas monarquias.
Como D. João VI gostava do Brasil ! Também por isso usou, com um orgulho ingênuo, irritando Canning, as potencias, aquele titulo falso: Imperador, do Império que fundara. Sim; fundara-o ele. Com a sua intuição - fugindo a Junot; com o seu trabalho e a sua fé. Tornara-se independente porque lá deixara, á sua sorte, o Brasil."
Fonte: Rei do Brasil : vida de D. João VI. Pedro Calmon