segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Incas

Conheça o antigo Caminho de Peabiru

19/11/2020 - Temporada Livre

O sul do Brasil ainda preserva um antigo caminho utilizados pelos indígenas e que liga o litoral catarinense, passando pelo Paraná e chegando até o Peru. Esta trilha é conhecida como Caminho de Peabiru e passa por 4 países da América Latina. A maior parte dela foi sendo perdida com o tempo, devido as mudanças geográficas como construções de estradas e o crescimento das cidades. Porém uma parte dela ainda é possível conhecer, sendo muito visitada por quem quer saber um pouco mais sobre a história do Brasil e ter contato com uma riqueza natural e histórica.

História do Caminho de Peabiru

A origem da trilha que ligava o oceano Atlântico ao Pacifico ainda está sendo estudada pelos pesquisadores da área. Muitos acreditam que a rota foi traçada pelos povos que habitam a região há mais de 900 anos. Inclusive, o trajeto foi muito utilizado pelos povos incas. Durante o período pré-colonial, as trilhas foram utilizadas para desbravar essas regiões. Portanto, o caminho possui uma grande importância para a colonização do sul do nosso país, pois permitia o acesso a diversos pontos. 

Rotas do Caminho de Peabiru

No total, o Caminho de Peabiru possui 4 mil km e no Brasil, a trilha  passa pelos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. A rota inicia-se na cidade de Palhoça, no litoral catarinense, indo em direção ao estado do Paraná. No Paraná, a rota atravessa as cidades de Adrianópolis, Tunas do Paraná, Cerro Azul, Doutor Ulisses, Castro, Tibagi, Reserva, Cândido Abreu, Pitanga, Nova Tebas, Mato Rico, Roncador, Nova Cantu, Altamira do Paraná, Guaraniaçu, Campo Bonito, Braganey, Iguatu, Corbélia, Anahy, Aurora, Iracema do Oeste, Jesuítas, Assis Chateaubriand, Palotina e Terra Roxa, chegando às margens do Rio Paraná. 

Em Curitiba, o caminho realizada uma bifurcação e seguia uma outra rota sentido nordeste, passando por Colombo, Bocaiúva do Sul e Campina Grande do Sul. Ali se dividia novamente, com um caminho para São Paulo e outro para o litoral paranaense, passando por Antonina. Em Araucária, um ramal secundário seguia para Santa Catarina, passando pelos municípios de Contenda, Mandirituba, Tijucas do Sul e Agudos do Sul.

Caminho de Peabiru hoje

Hoje, apenas pequenos trechos do Caminho de Peabiru resistiram ao tempo. Alguns desses trechos ainda são possíveis conhecer, como o pequeno trecho na região de Palhoça, mais especificamente em Araçatuba, uma praia pequena entre a Enseada de Brito e a Passagem do Maciambu. 

Na cidade de Garuva também é possível conhecer um pouco do caminho. Por lá, o trecho é pavimento com pedras e faz parte de uma das ramificações do trajeto principal. 

Alguns outros pontos também foram demarcados pelos estudiosos do Caminho de Peabiru. Alguns deles ainda preservam sítios arqueológicos. Fato muito importante para as pesquisas históricas da região. Existe, inclusive, projetos para transformar o Caminho de Peabiru em um trajeto turístico, assim como Minas Gerais realizou com a Estrada Real, preservando os pequenos trajetos que ainda restam e abrindo a possibilidade para que a população possa ter contato com essa parte tão rica da nossa história.

Link da Matéria, com fotos

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O Convento de Cairu

 A Terra de Santa Cruz

O Convento e Igreja de Santo Antônio de Cairu, na Bahia, foi construído entre 1654 a 1750 em terreno doado por Bento Salvador e sua mulher, D. Izabel Gomes.

O Convento de Cairu foi o primeiro grande edifício franciscano a ser erguido no estado da Bahia, antecedendo mesmo o convento principal do Salvador, que existia como sede, mas não no seu desenho atual. O monumento em questão deve ter sido construído, diferentemente de outros edifícios franciscanos, em stupenda celeritas, como diriam os antigos, considerando, evidentemente, a escala de celeridade que pode ser aplicada às construções antigas. Isto lhe garantiu praticamente ser concluído, nas linhas gerais, no século XVII, o que lhe deu grande unidade estilística, que não pode ser encontrada facilmente em outros exemplares franciscanos.
Segundo Bazin e outros estudiosos, a construção do convento foi iniciada pelo primeiro superior, frei Gaspar da Conceição. Quanto à edificação da igreja, frei Jaboatão atribuía a autoria dos projetos dos conventos de Cairu e de Santo Antônio do Paraguaçu ao frade franciscano Frei Daniel de São Francisco, que havia sido o primeiro guardião do Convento de Salvador, em 1647. (…) Tinha enorme facilidade de convencer os ricos e poderosos a fazer polpudas doações para as obras do Convento de Salvador. Sem dúvida alguma, foi nesse período que desenvolveu o projeto do Convento de Cairu.

“Também participou da restauração da Capitania de Pernambuco contra o jugo holandês, quando lá se encontrava, na qualidade de custódio. Foi guardião do Convento Franciscano de Olinda por três anos, no início da década de 1670, retornando a Salvador para exercer novamente a função de superior do Convento, entre os anos de 1673 e 1677. Completado o seu mandato, vamos encontrá-lo mais tarde, já em idade avançada, como guardião do Convento de Olinda, no Capítulo do Provincial Fr. Aleixo de Madre de Deus.

“Frei Jaboatão dizia, referindo-se a Frei Daniel e ao convento cairuense, “que a primeira pedra a lançou, o mestre na sagrada teologia e custódio provincial (…) em vinte e cinco de agosto de 1654”. (…) Frei Daniel faleceu no Convento de Recife, em 4 de fevereiro de 1692.

Como o elemento artístico de destaque do convento é a sua monumental azulejaria portuguesa, a decoração interna da nave não poderia, de forma alguma, dispensá-la. Um grande silhar, com uma altura correspondente a 11 azulejos, percorre toda a parte inferior das paredes, totalizando três mil peças que formam um admirável conjunto. São exemplares do período joanino, como a maioria da azulejaria do convento, produzidos no período áureo dessa arte em Portugal, quando aquele país foi governado por D. João V, um monarca sensível, apaixonado pelas artes e seu grande incentivador. Esses azulejos devem ter sido produzidos em Coimbra, segundo centro produtor português (o primeiro era Lisboa).

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A Reação do Rei Dom João VI a Independência do Brasil

Por Pedro Calmon

A Independência do Brasil do Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves foi orquestrada pela Maçonaria, no setor político, e pela Inglaterra, no setor Militar e Econômico, facilitada pelo regresso de Dom João VI a Portugal em 1821, pelas decisões equivocadas das Cortes e pelo recrutamento do Príncipe Regente Dom Pedro as fileiras da conspiração Maçônica.

Para D. João VI, a Coroação de seu filho D. Pedro I como Imperador do Brasil em 1822 era ilegítima, porque o poder fora adquirido revolucionariamente, sendo que somente o legítimo detentor da soberania podia legitimamente sub-rogar tal poder.

A partir de 1824 D. João VI, manifestava a sua intenção de “por termo aos males e dissensões que têm ocorrido no Brasil”.

A Revolução Liberal do Porto foi um desastre para Portugal: os insultos dos deputados, a humilhação dos brasileiros nas Côrtes, a irritação de D. Pedro, os aprestos de tropa, os choques de patriotas e portugueses, logo,  com a insubmissão do príncipe, que não mais obedecia ao congresso, que o desafiava, o desligamento do Brasil, perdido de vez ...  Foi o que o constitucionalismo dos exaltados deu a Portugal: o epilogo mofino do seu laborioso reinado americano. E a miséria comum. O comercio extinto, as casas de Lisboa e Porto fechando-se, os ingleses recolhendo a herança lusitana, favorecendo a separação do Reino Unido, e a divisão da família portuguesa, a começar pela família real. 

Chegara do Rio de Janeiro, deportado pela guarnição portuguesa, o conde dos Arcos. Desembarcara desiludido, pedindo, em tons lúgubres, que suspendessem represálias, que evitassem a luta, pois não havia mais impedir a emancipação do Brasil. Poucos, como o rei, o entenderam. Diria Palmela: "Sua Majestade era dotado de muita perspicácia para deixar de conhecer a impossibilidade de sujeitar o Brasil. .. "  foi o bom senso isolado, amargando a hora do desvairo de seu país, não sabendo mais onde parariam, na queda.

Dom João VI se convenceu que Portugal não tinha mais condições de reconquistar o Brasil pelas forças militares. Em 1823 a Guerra na Bahia havia acabado a favor dos Brasileiros com o apoio de mercenários britânicos e Franceses. O Rei queria por fim a Guerra que tantos danos tinham trazido aos portugueses e aos brasileiros, de “restabelecer a paz, amizade e boa harmonia, entre povos irmãos” e, além disso, “de procurar a prosperidade geral e segurar a existência política aos destinos futuros dos reinos de Portugal e Algarves, assim como os do Brasil”

Seu filho porém o Infante Dom Miguel, Generalíssimo do Exército e seus apoiadores defendiam novas expedições ao Brasil.

D. João, a despeito da sua astucia, não compreendera bem o caráter do primogênito que lhe usurpou o trono no Brasil. Julgara-o um rapazola sentimental que tinha a força do avô espanhol, a devassidão do tetravô português, a ingenuidade, em coisas do Estado, dos moços Braganças que gastavam a adolescência matando lobos no Alentejo ou desancando labregos na rua suja.

Ignorava que D. Pedro se acamaradara com os oficiais da tropa, principalmente Jorge de Avilez, conhecera em Santo Antônio frei Sampaio, gordo, eloquente, espirituoso, que lhe falara das ideias francesas, e dedicava a Napoleão uma admiração escandalosa, esquecido de que o corso lhe perseguira a família, destronara o avô, ridicularizara o tio, varrera a pátria com as suas cavalarias. 

D. Pedro impacientara-se: e queria a sua parte de governo, a sua cadeira á mesa do Estado, o seu quinhão de gloria.

As ultimas palavras, com que D. João VI selou os argumentos antes de seu regresso a Portugal, foram molhadas de lagrimas: "Isto já agora não tem remedia. A Providencia que tão maravilhosamente tem protegido a monarquia portuguesa, é quem só a póde salvar". Somente Deus.

O desmantelo da monarquia começara pela separação do Brasil. Como ele previra. Independência com D. Pedro, porque lá ficara; sem este, se também embarcasse. D. João jamais se enganara com as consequências da volta á Europa. Como aconselhara ao filho, que se antecipasse a "algum aventureiro"

Com a Guerra no Brasil perdida, sem dinheiro nos cofres públicos, valia mais desmontar as fragatas do que as expedir á guerra longe... Como que tirava aos zelosos estadistas o instrumento de suas cóleras: sem barcos não ousariam reatar a tragédia, continuar a briga desigual. "

Dentre as razões que levaram o Reino Unido a apoiarem ativamente a causa da independência brasileira, pode-se destacar que a independência do Brasil facilitava politicamente o reconhecimento das repúblicas hispânicas; que Portugal encontrava-se envolto em tumultos internos, e, portanto, muito fraco militar e economicamente para voltar a impor o seu domínio sobre o Brasil; como resultado das relações comerciais desenvolvidas desde 1808 o Brasil já era o terceiro maior mercado consumidor das exportações britânicas; o Brasil tinha mantido a monarquia e era, portanto, um "bom exemplo" para os outros países; que qualquer retardo no seu reconhecimento colocaria em risco a estabilidade e a unidade do novo país.

Em 1823, Nathan Rothschild, banqueiro mais poderoso da Inglaterra tornou-se o principal agente Financeiro do governo brasileiro em Londres, pagando os dividendos semestrais sobre os empréstimos e atuando como banqueiro do enviado brasileiro em Londres.  Foi Nathan Rothschild o grande influenciador das negociações do Reconhecimento da Independência do Brasil por Portugal em 1825. 

O primeiro grande empréstimo externo do Brasil foi obtido em 1824, no valor de £ 325482 milhões de libras esterlinas e ficou conhecido como "empréstimo da Independência", destinado a cobrir dívidas com a coroa portuguesa e na prática significava o pagamento a Portugal pelo reconhecimento da independência.

Os diplomatas de Dom Pedro I não compreendiam como o Brasil "póde figurar-se ter um aniversário no Sr. D. João VI, quando S. M. foi quem de fato abriu as portas á sua Independência ele-vando-o á categoria de Reino, franqueado o comercio de seus portos a estabelecimentos, que o tornam livre e independente de todo ... " 

Posta a querela nestes termos de ingratidão filial a composição não tardaria mais. 

D. João pedia indenizações e o titulo de Imperador, honorifico, para que morresse consolado, na ilusão de não ter perdido nenhum dos domínios herdados, além da escassa Olivença fartamente compensada pelo Uruguai; D. Pedro reclamava o reconhecimento da Independência. 

Evidentemente, só um tratado secreto, que não sofresse a influencia da indignação popular, poderia congraçá-los. A Inglaterra não admitia que D. João VI se considerasse imperador nominal do Brasil. 

A farsa irritava-a. Como que adivinhava a futura reunião dos dois países, na pessoa de D. Pedro, portador de ambas as coroas, e um obstáculo á emancipação da América de todo poder europeu, que não fosse inglês.

Com o Tratado do Rio de Janeiro Dom João VI se fez Imperador do Brasilpor aclamação dos povos ...
 
D. João fizera questão de coroar-se, com aquela coroa por não ceder á Inglaterra, e proclamar o perdão do primogênito rebelde. Ele tinha, por vezes, esses caprichos misteriosos. Dizia que abominara aquela guerra de pai a filho, de metrópole à colônia emancipada, onde Portugal deixara, com os escudos das conquistas, o seu espirito civilizador. 

Arcos, falando no conselho do Reino, entre os absolutistas visionários, exprimira o sentimento das velhas gerações lusitanas. O Brasil continuaria a enriquecer Portugal, como país de imigração, aproximado da antiga mãe pátria pelo idioma, que ninguém lhe mudaria, pelo atavismo: mas uma luta de desespero, cavando ódios duradouros, mais afastaria as duas monarquias.

Como D. João VI gostava do Brasil ! Também por isso usou, com um orgulho ingênuo, irritando Canning, as potencias, aquele titulo falso: Imperador, do Império que fundara. Sim; fundara-o ele. Com a sua intuição - fugindo a Junot; com o seu trabalho e a sua fé. Tornara-se independente porque lá deixara, á sua sorte, o Brasil." 

Fonte: Rei do Brasil : vida de D. João VI. Pedro Calmon